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História Harry Potter e o Véu da Eternidade - O Véu da Eternidade


Escrita por: Earendil

Notas do Autor


Esta história se passa nos últimos momentos do 7° livro. As relíquias da Morte. A fic narra a luta final entre Harry Potter e Voldemort.

Aviso, de antemão, que não adianta compararem este Harry do Harry de JK Rowling, afinal, esta é uma fanfic e apesar de se tratar do mesmo personagem, sua conotação e pensamentos são um pouco diferente dos contidos na obra original.

Enfim, boa leitura e espero que apreciem esta pequena e humilde homenagem de um fã aficionado...srsr

Obrigado.

Capítulo 1 - O Véu da Eternidade


Eu sentia todos os olhos fixos em mim, sentinelas espectadoras de uma luta para a qual eu vivi e sobrevivi por todos estes anos; anos repletos de mistérios, segredos, desespero e, finalmente, redenção. A inexorável força que move o destino me conduziu até este momento, neste castelo, defendendo os que amo, os que me são caros, da fúria sem propósitos de Lord Voldemort. E cá estou eu como um divisor de águas, uma barreira minguante separando a completa escuridão da luz tênue nesta noite fria.

Eu sou o último Potter, a última peça de minha linhagem e de uma família que jamais cheguei a conhecer, o último suspiro de um sangue que há muito deveria ter se evaporado deste mundo, desvanecido como uma brisa cálida em um dia quente de primavera. Sou, provavelmente, o último descendente de Ignoto Peverell, senhor original da Capa da Invisibilidade que, por muitos anos, usei com tamanha leviandade. Por ironia do destino, Voldemort, o mestre bruxo de artes das trevas também descende dos Peverell por parte de Cadmo Peverell, o senhor original da Pedra da Ressurreição, cuja qual é a responsável por meu recente retorno do mundo dos mortos.

Voldemort e eu estamos ligados até as raízes mais remotas de nossa existência, somos duas faces de uma mesma moeda, somos bastardos e impuros, rejeitados, solitários... e ligados por laços de ódio. Ele me amaldiçoou duas vezes e falhou em ambas, desta vez eu não me permitirei morrer sem levá-lo comigo. Eu existo para que ele morra... chamam-me de o “menino que sobreviveu” e está certo, eu vivi todos estes anos para confrontá-lo neste momento decisivo, neste momento de fúria, onde gritos de dor e medo rasgam a noite, onde amigos morrem e as estrelas choram... o destino será traçado e finalmente selado

Esta será a noite de minha morte... e da morte de Voldemort.

- Você é um tolo, Harry Potter – sibilou a voz de Voldemort cortando a noite fria como o silvo de uma serpente venenosa, uma voz lenta e inexpressiva – Crê realmente que pode me vencer? Você e seus feitiços fracos, sua inabilidade irritante e sua força de vontade inesgotável? Não, Harry, é preciso mais do que mediocridade e trabalho duro para vencer Lord Voldemort; o que o manteve vivo por todos estes anos foi o feitiço de sua mãe, a proteção de Dumbledore e, talvez, sua sorte ímpar... Mas não há mais nada entre você e eu agora, nem mesmo a Pedra da Ressurreição.
- Eu não sou um tolo, Tom – eu respondi em tom de afronta – Você não entendeu ainda tudo o que se passou? A varinha que está em sua mão sabe que seu ultimo mestre foi desarmado? Porque se ela souber... Eu sou o novo mestre da Varinha Mestra. Eu derrotei Draco Malfoy e a Varinha da Morte, a Varinha dos destinos, obedece apenas a mim, Riddle... eu que sou o senhor das Relíquias da Morte.
- Mentiras sobre mentiras – berrou Voldemort num misto de insanidade e dúvida – Vamos logo, Harry Potter, escolha alguém desta multidão para morrer por você, esconda-se como você fez todos estes anos enquanto dormia debaixo da proteção daquele velho tolo que regia este castelo sob o estigma de proteção a trouxas e sangues-ruins. Você não passa de uma criança assustada...
- Eu tenho consciência das minhas limitações, Riddle – respondi com raiva – Mas este é o meu trunfo, esta é a minha carta na manga, não se trata do Amor como pregava Dumbledore, ou, pelo menos, não necessariamente. Amor, determinação, amizade são sentimentos incompreensíveis para você, Tom, porque apesar de todo o poder que possui... não passa de um bruxo covarde e amedrontado.
- Eu lhe mostrarei, Potter, de uma vez por todas e para todos neste maldito castelo que eu sou o Senhor da Varinha Mestra, que sua morte seja um marco para findar em definitivo qualquer tentativa de usurpar o poder dos bruxos de minhas mãos.

Eu senti o tempo desacelerar enquanto Voldemort erguia a Varinha das Varinhas na direção de meu coração, meu braço ergueu-se instantaneamente seguindo o movimento dele. Subitamente, o salão do castelo, mergulhado num lusco fusco, cedeu à claridade suave do primeiro raio de sol; a luz invadiu o salão e os olhos de todos que acompanhavam o desfecho desta terrível batalha.
Percebi Mione erguer as mãos ao rosto enquanto era abraçada por Rony, Neville arregalou os olhos enquanto meus ouvidos se enchiam com os sussurros de medo soltos pelo ar; minha varinha estalou quase imperceptivelmente, estava trincada e quase morta, o poder consumido através da rachadura em sua extensão fina e singela. Eu senti pena dela, ali, depois de tantas batalhas, surrada, corajosa e quebrada, a varinha de pena de Fênix lutaria por mim a última batalha.
Senti o ar vibrar quando Voldemort invocou o feitiço, senti quando a magia era reunida com toda a raiva e canalizada para Varinha da Morte, uma magia negra e traiçoeira invocada para executar a maldição que tirou a vida de tantos bruxos inocentes através dos anos em que Voldemort dominou das sombras.
- Avada kedrava! – gritou ele.
Um pulso imperceptível de magia deslizou de seu pulso concentrando todo o poder na varinha que empunhava, uma luminescência esverdeada foi vomitada em minha direção na forma de uma serpente de luz. Rápida e inclemente a maldição ansiava por minha vida e para findar a busca de Voldemort que já durava quase vinte anos: me matar.
Neste mesmo instante, num momento infinitesimal, eu levantei minha própria varinha alquebrada ajustando o alvo e ouvi minha voz num grito abafado e desesperado pronunciar o feitiço que durante os anos se tornou quase uma marca registrada.
- Expelliarmus!
Um jato de luz avermelhado cruzou o salão disparado de minha varinha, como um relâmpago se chocou violentamente contra a luz verde e amaldiçoada disparada por Voldemort. O estrondo soou como o de um milhão de trovões ecoando simultaneamente, o salão foi varrido por um vento violento e quente e uma luz dourada explodiu do choque entre os dois feitiços; ali, duas vontades régias disputavam o destino: um buscava a salvação e o outro a destruição.
- Hoje, você terá o destino que lhe aguarda há dezessete anos, rapaz – gritou Voldemort, sua voz sobrepondo com dificuldades a balburdia criada com a colisão de feitiços – Hoje terá o mesmo destino de seus pais.

Eu senti a força do impacto me arrastar para trás, o grito de Hermione seguiu a minha consciência de que a força de Voldemort era superior à minha, a varinha que eu segurava com força começou a vibrar e o cabo aquecia à medida que os segundos se arrastavam.
Quando o tempo atingiu seu primeiro minuto eu senti o suor correndo pelo meu rosto, meu braço direito já havia amortecido e o ar assumiu um odor ocre como se estivesse ionizado. Meus olhos lacrimejavam e eu percebi que minhas forças estavam minguando, o ataque de Voldemort era devastador e minha fiel varinha, quebrada, não teria poder o suficiente para revidar o Avada Quedavra.
O raio verde se aproximava lentamente de mim, prestes a me... eternizar.
- Harry, resista! – gritou Rony de algum lugar.
- Harry... – ouvi Hermione choramingar.
- Não deixe ele te vencer, Harry – gritou Jorge.
Mas as minhas forças estavam se exaurindo além do meu controle, minha visão embaçou e minha cabeça girou devido ao esforço desprendido em manter a maldição de Voldemort longe de mim, no fim, talvez, mesmo que eu fosse o Senhor da Varinha da Morte, eu deveria enfrentá-la como se estivesse enfrentando qualquer varinha comum voltada contra mim.
E mesmo que eu dissipasse seu impiedoso ataque, como poderia vencê-lo? Como poderia sobrepujar aquele que todos julgam um dos magos mais poderosos que já existiram? Eu alimentei a esperança de que poderia derrotá-lo, mas na atual circunstâncias me parece que o único bem que farei será morrer lutando ao lado de meus amigos.
É uma lástima, todos aguardavam ansiosos que eu fosse um salvador, mas não, serei apenas um menino tolo que tentou lutar contra um bruxo mais habilidoso e infinitamente mais poderoso que eu. Então o que eu deveria fazer, deixar-se morrer para simplificar tudo?

Não.

Eu não posso desistir assim, eu não sobrevivi a uma Maldição da Morte e passei os últimos anos estudando magia para simplesmente fugir de meu destino, e mesmo sentindo minhas pernas fraquejarem, meus joelhos cederem me arrastando para o chão e mesmo sabendo que meu poder estava prestes a falhar... eu não desistiria.
Infelizmente, em nem todo caso querer é poder. Minhas forças estavam se exaurindo enquanto eu tentava manter o feitiço, minha varinha estalava e meu braço já havia atingido níveis críticos... olhei a minha volta e captei o olhar desesperado de Gina; ela estava me vendo ali, de joelhos, perdendo as forças. Minha morte seria uma questão de tempo.
- Entende agora, Harry Potter? – gritou Voldemort, sua voz soou desvairada e jocosa – Você nunca teve chance a não ser aquela providenciada pela sorte e pelo cuidado de terceiros, a sorte fortuita e inexplicável que surge pelo acaso, mas quando você precisa agir diretamente não há força o suficiente, não é mesmo?
O vento formava uma parede furiosa nos separando das pessoas que assistiam horrorizadas a este espetáculo de luzes e gritos, de magia e morte; fraquejando como estava eu não conseguia prestar atenção a nada. Busquei com os olhos os rostos de Rony e Hermione e percebi que eles ainda torciam e aguardavam o desfecho do duelo final.
- Desista, Harry – disse Voldemort, sua voz lenta e melodiosa como o mais doce dos venenos – Eu vejo que está cansado, desista! Eu sei o quanto você tem estado farto de tudo isso, eu sempre soube tudo o que se passa em sua mente – e dito isso ele bateu de leve na cabeça demonstrando nossa ligação amaldiçoada – Eu o compreendo.
- Você não sabe de nada – respondi ofegante.
- Claro que sei. Você é corajoso, Harry, um dos mais corajosos que conheci... mesmo covardemente ancorado por bruxos mais poderosos, você ainda é corajoso a seu próprio modo. Afinal, incontáveis bruxos mais notáveis que você esmoreceram diante de Lord Voldemort. Mas veja só você! Ainda lutando, mesmo sabendo que não terá chance alguma. Eu sinto sua força fraquejar.
- Eu não vou desistir...
- Mas não seria melhor? – retrucou Voldemort num tom venenoso – Veja, você morrerá como um herói e prometo que seus amigos terão permissão para visitar o seu túmulo. Você agüentou sua vida toda, Harry, o peso e a honra de ser o arqui-inimigo do maior bruxo que um dia já existiu... vamos, desista, morra logo e me poupe deste trabalho monótono.
- Não... – eu gritei com raiva, mesmo sabendo que minhas forças se esvaiam segundo a segundo – O maior bruxo que existiu foi Alvo Dumbledore!
- Ah – esganiçou Voldemort – Você e essa insistente lealdade para com aquele velho cadáver, tolo Potter, Dumbledore foi um bruxo de seu tempo, um defensor absurdo de trouxas e sangues-ruins... você apenas teve o demérito de ser seu pupilo e isso, pelo visto, não fez grande diferença.
- Agora – continuou ele – Chegou o momento de você dizer adeus a todos os seus seguidores, Harry. Chegou o momento de esmagar esta pedra no meu caminho; todos verão que você não passa de uma criança e que eu... eu sou um deus.

Dito isto, Voldemort gritou em fúria e aumentou a carga de magia em seu feitiço maldito, a luz verde jorrou com mais violência e o raio da morte empurrou com força meu feitiço contra mim. Meu braço vibrava e as lentes em meus óculos trincaram, espatifando-se em cacos assim como a minha força de vontade. Era inútil, fraco e ferido como eu estava... não conseguiria vencê-lo.
Ouvi Gina gritar meu nome, meu coração se aqueceu ao som de sua voz... eu gostaria de tocar mais uma vez seus lábios e sentir o cheiro de seus cabelos vermelhos, gostaria de dizer que a amo. Mas muitas coisas deverão deixar de ser feitas agora, tantas palavras deixarão de ser pronunciada... no momento de minha morte, minha vida passa correndo por meus olhos e eu percebo que meus momentos de felicidade foram poucos...
Mas talvez seja isso que importe: morrer pelos momentos bons. Ainda assim, se Voldemort vivesse, meus amigos e Gina estariam condenados a uma vida de escravidão e para não serem mortos, teriam de jurar lealdade ao Lord das Sombras. Eu não podia permitir isso.
Uma sonolência mórbida me atingiu, eu fraquejei e meu joelho afundou ainda mais contra o chão, eu estava perdendo esta batalha... não tinha mais forças para lutar, para combater... foram anos lutando contra isso, anos que existiram com o único propósito desta batalha, que agora eu perderia. Eu estava exausto demais, tanto física quando psicologicamente, vivi minha vida toda à sombra da existência de Voldemort, foi por ele que eu fiquei vivo mais estes 7 anos...

... 7 horcruxes.

A batalha ente nós dois avançou para seu segundo minuto eterno.

Eu estava desistindo, morrer talvez trouxesse a paz que eu merecia... mas, então, uma voz familiar tocou minha mente com a austeridade crítica de um general de guerra.
“Você está pensando em desistir agora, Harry”
- Sirius?
“Sempre o vi como um homem corajoso, o que está fazendo afinal, está aceitando a morte?”
- Eu não mereço a paz? – eu retruquei entre dentes me esforçando para manter o feitiço que me separava da morte certa – Eu aceitei morrer.
“Ah, mas você aceitou a morte pelos motivos errados, Harry” – disse a voz de Sirius com um ar paternal – “Você aceitou morrer porque está cansado, aceitou morrer porque não suporta mais... quando, na verdade, deveria morrer pelos que lhe são amados, por Gina, Rony, Hermione... deste modo estará morrendo pelos motivos certos. Irá morrer hoje para mantê-los livres, para que eles tenham futuro”.
- Um futuro do qual eu não poderei participar – eu disse e senti meu rosto umedecer com lágrimas verdadeiras – Não poderei ficar com eles.
“Não” – disse Sirius e sua voz estava triste – “Mas fazemos o que é preciso fazer para manter os que amamos em segurança. Entenda Harry, somos homens marcados você e eu, tudo o que amávamos foi nos tirado de forma violenta e rude, o mundo não foi justo conosco, mas temos responsabilidade para as pessoas que amamos e hoje você se sacrificara em nome deste amor. Você dará um futuro a todos eles, mesmo que seja um futuro sem você”.
- Eu não tenho forças, Sirius. Ele é mais forte do que eu.
“Não, Voldemort não é mais forte que você... há uma maneira de você vencer, Harry, uma técnica abolida há séculos pelos livros de bruxaria, mas esta técnica tem um preço altíssimo: a sua vida”.
Eu deveria temer as palavras de Sirius, mas eu não senti medo. Ali, naquele momento, Voldemort se fortalecia e eu enfraquecia, eu sabia que as pessoas que eu amava estavam em perigo, ouvia as lamurias de Hagrid e sabia que não teria escolha. Eu teria de usar o poder deste feitiço proibido.
- O que eu preciso fazer?
“Esta é uma técnica maldita” – alertou Sirius – “A maior e mais imperdoável de todas as maldições, foi forjada por um dos primeiros membros de minha família, Aragor Black, o Amaldiçoado. Ele fora um bruxo das trevas de alta sabedoria, anos mais tarde, esta Maldição foi abolida até mesmo de minha família e só chegou até mim graças aos ensinamentos antigos que sobreviveram através de meu tio Alfardo”
- Magia negra – eu sussurrei desconfortável.
“Sim... e infelizmente é o único meio de você vencer Voldemort. Terá de destruí-lo com a mesma magia negra que ele tanto idolatra”.
- Então, no fim, eu serei um mago das trevas.
“Não” – disse Sirius com firmeza – “Seu coração é bom, Harry, eu sou fruto de uma família de bruxos das trevas e nem por isso me tornei um, mas, agora, para derrotar o inimigo, terá de se valer das armas dele”.
- E então morrerei... por aqueles que amo... por amor.
“Eu fui o último Black” – disse a voz ecoante de Sirius em minha mente – “Você será o último Potter, e logo nos encontraremos no lugar que fica além...”
- Eu devo ter medo?
“Um homem como você?” – riu Sirius – “Jamais”.
- O que devo fazer? – eu perguntei.
“Primeiro, ponha-se em pé... um Potter não morre de joelhos!”

Num esforço sobre-humano eu forcei minhas pernas a obedecerem, ouvi gritos de apoio assim que me ergui com dificuldades no chão, senti quando um líquido quente correu de minhas narinas e de meus ouvidos, percebi que o esforço me fazia sangrar de dentro para fora. Voldemort estava me matando... mas eu não morreria sozinho.
- Harry... – gritou Gina.
“Perdoe-me, Ginny” – eu pensei comigo mesmo – “Não vou poder ficar...”
Assim, sangrando e exausto eu me coloquei em pé e encarei Voldemort, seu rosto pálido pareceu empalidecer ainda mais e seus olhos com odiosas pupilas ígneas e verticais se abriram num rompante de raiva silenciosa.
- Ainda não, Tom – eu disse com desprezo – Mas logo iremos morrer... você e eu.
- Harry Potter... – ele disse num sibilo venenoso – Eu irei sepultá-lo neste castelo, de um jeito ou de outro.
Meu braço amortecido empunhava com força a varinha, eu segui o jato de luz verde e percebi que estava praticamente tocando a ponta de minha varinha... com força, a um custo elevadíssimo e desesperado, eu comecei a pouco a pouco empurrar a maldição de Voldemort para longe de mim. A potência das duas magias aumentando e a luz dourada da explosão iluminando tudo numa clareza ofuscante, o vento uivou e todos estavam aterrorizados.
“Preste atenção” – gritou Sirius, ele parecia estar ao meu lado, mas eu não ousei desviar minha atenção do duelo de luzes à minha frente – “Estes dois feitiços, como quaisquer outros, precisam que a varinha do bruxo esteja corretamente posicionada. Neste caso, a varinha empunhada deve estar num ângulo de noventa graus, em riste, sobre o corpo do bruxo; agora, sei que isso será difícil, mas você terá que se concentrar e erguer sua varinha para o alto”.
- Eu não posso fazer isso! – retruquei desesperado – Se eu erguer minha mão o feitiço dele me atingirá em cheio.
“Terá de curvar o raio de seu feitiço, Harry, para que ele acompanhe o movimento de seu braço”.
- Não consigo, já estou usando toda a minha força para manter o feitiço em colisão, se eu tentar me mover... falharei.
“Você só falhará se não tentar. E, de uma forma ou de outra, morrerá. Tente, agora”

Não havia alternativa. Com um esforço sobre-humano eu comecei lentamente a erguer meu braço, a dor excruciante consumindo cada célula de meu corpo, ainda assim eu me concentrei o máximo que pude para dobrar o raio de luz de Voldemort. O bruxo me encarou com furor, seus olhos vermelhos como sangue se arregalaram em sua incompreensão de meu ato...
- O que está tramando agora, Potter? É inútil seja lá o que for... – gritou ele numa fúria crescente.
Num ritmo absurdamente lento meu braço se erguia acima de meu corpo, com ele, o jato de luz que se colidia se dobrava para o alto acompanhando o movimento de minha varinha; o vento serpentou perigosamente e a luz dourada que nos cercava assumiu uma tonalidade rubra e sanguinolenta. Parecia uma eternidade, parecia improvável que eu fosse conseguir; cada síntese de meu pensamento se concentrando para dobrar a maldição que Voldemort me lançara... minha varinha estalando perigosamente, desejei que ela suportasse a carga do impacto.
“Isso Harry”! – bradou a voz de Sirius em minha mente – “Está quase lá, mais um pouco e você conseguirá.”
Voldemort aumentou ainda mais sua força, mas eu mantive os pés firmes no chão e depois do que pareceram horas, consegui finalmente erguer a minha varinha em riste, apontando-a em linha reta para o alto da cúpula do grande salão de Hogwarts.
“Excelente, Harry, excelente” – disse Sirius – “Agora preste atenção e agüente firme. Cada bruxo pode emitir sua magia com a força de sua vontade e dom, entretanto, esta não é a única fonte canalizadora da magia, esta técnica proibida permite que o bruxo que a utilize se valha, também, de sua energia primária: a energia da vida”.
- Como assim? – perguntei ofegante com o esforço.
“A energia da vida é a força fundamental de todos os corpos, ela se espalha entre as plantas, entres os seres humanos, os animais e mesmo as estrelas... é a força que pulsa em cada estrutura viva. Esta energia possui uma força ímpar, ela é única, pois é oriunda da alma, quanto mais forte for a alma, mais poderosa é esta força. Mas esta força é selada. Para isso, você precisa se valer de um feitiço banido do mundo dos bruxos, um feitiço secreto, este feitiço libertará o selo dentro de você para que possa utilizar e queimar a energia primária”.
- Ou seja, eu queimarei a minha própria vida – disse compreendendo por fim o meu destino trágico.
“Exato. Esta força, levando em conta a pureza de sua alma, lhe dará força o suficiente para destruir Voldemort... você está pronto?”
- Sim – eu respondi convicto e ciente de minha morte – Mas me pergunto se Voldemort não fará o mesmo, queimando sua vida para me matar.
“Jamais, Voldemort não conhece o amor, Harry, ele não compreende o conceito. Ele não abrirá mão se sua vida miserável, pois o conceito de sacrifício lhe é estranho, acredite em mim, ele não fará isso “ – disse Sirius, mas sua voz soou preocupada e triste – “Agora, com a varinha em riste, repita o feitiço que eu lhe direi; faça isso em voz alta e com firmeza de vontade ou ele falhará. Diga: Vis Vitae.
- Vis Vitae – eu repeti me concentrando em exigir de mim mesmo o mais verdadeiro e puro sentimento de compreensão e aceitação, este feitiço sugaria a minha vida... seria a minha vida em troca da de meus amigos.

Por isso o feitiço funcionou.

Literalmente, meu corpo foi envolto por uma aura azulada, como uma névoa gélida, uma bruma etérea se derramando de meu corpo e se espalhando ao meu redor. Imediatamente, senti o poder de minha magia aumentar, mas, ao mesmo tempo, percebi que meu corpo enfraquecia gradualmente. Ainda assim, não pude deixar de sorrir ao encarar o rosto espasmódico de Voldemort.
- O que você fez? – ele perguntou entre dentes.
- Ah, então você sabe – eu disse forçando um sorriso torto em meus lábios – Eu imaginei que saberia, afinal, você é o mago que mais se aprofundou nas artes das trevas e como os Black outrora foram seus discípulos, filhos de Sonserina, imaginei que saberia deste feitiço proibido criado por Aragor Black.
- Você não pode...
- Posso sim! – eu gritei e a raiva agora me tomava substituindo o medo - A vida é minha e eu a entrego a meus amigos pela oportunidade de livrá-los de você, Voldemort; esta energia pertence à mim, esta é a força da minha vida e eu a sacrifico para libertar as pessoas que amo. Sim, Tom Riddle, você será destruído em nome do amor.
- Ridículo – sibilou ele com a voz cortante – Tudo o que conseguirá é se matar mais rápido e me causando menos dispêndios, seja lá o que planeja, Potter, não irá funcionar, não contra Lord Voldemort.
“Está pronto, Harry?” – gritou Sirius ao meu lado – “Tem de ser agora ou sua vida se esvairá antes que o destrua. Agora terá de lançar a Maldição”.
- Que maldição é esta?
“Ela simplesmente consome tanto o corpo quanto a alma, cada vestígio de existência será disperso e não poderá ser reconstituída; agora que Voldemort perdeu todas as suas Horcruxes, este feitiço destruíra a única parte maligna que há dentro dele e livrará o mundo de sua insanidade desvairada”.
- Harry Potter – gritou Voldemort – Este é o momento de sua morte!
“Agora Harry... agora...- gritava Sirius - Com toda a convicção, com toda a sua força e sua determinação, liberte a Maldição: Abolitio Aeterno.

Este seria o meu ultimo feitiço. Consumindo toda a energia primária de minha vida, consumindo todo o meu ser, eu usaria uma Maldição Imperdoável, a mais imperdoável das Maldições; mas não havia escolha, nada mais derrotaria o Lord das Trevas, nada mais consumiria sua existência e livraria a todos de seu mal. Eu teria que destruí-lo, mesmo fazendo o que jamais fiz: matar.
Rapidamente, olhei ao redor e procurei por Hermione e Rony... lá estavam eles, abraçados, olhando com desespero o desfecho desta luta, sorri para eles e meu coração se alegrou de morrer por duas pessoas que me foram tão importantes; Mione soube o que estava para acontecer e desesperada tentou se livrar dos braços de Rony... mas seria inútil.
Focalizei então Gina, linda e imóvel, observando tudo com lágrimas nos olhos... pisquei para ela e disse baixinho um “eu te amo”.. em seguida me virei para meu inimigo.
- Tom Riddle – eu gritei a plenos pulmões – Faço isso por meus amigos, minha família... as pessoas que amo. Faço isso por todos os que você destruiu, pelas famílias que ceifou, pelas casas que destruiu. Hoje eu morro para libertar todos de seus delírios messiânicos, hoje... aqui e agora... você e eu encontraremos nossos destinos de uma vez por todas...

... ABOLITIO AETERNO

Houve uma explosão de luz. Minha varinha se desfez em minha mão e a pena de fênix que lhe servia como cerne e alma flutuou incandescente pelos meus olhos, o som ecoou e reverberou por todos os corredores do castelo; a esfera de luz que cercava Voldemort e eu se desfez e o vento soprou com a força de um furacão atirando todos para trás.
A maldição atingiu Voldemort por completo, o piso se desfez em uma cratera fumegante e o Lord das Trevas pairou por alguns instantes sobre o solo fragmentado, aos poucos, seu corpo era decomposto como se fosse feito de pó. O vento negro açoitou-o carregando sua existência amaldiçoada de nossa presença, eu vi seus olhos vermelhos se petrificarem num horror silencioso, vi quando a Varinha das Varinhas... uma das Relíquias da Morte, se fragmentou em suas mãos.
Antes de o vento soprar completamente seu corpo de pó pelo ar... ainda pude ouvir sua voz ofídica soando como um fantasma farfalhante:

- H A R R Y... P O T T E R...

E então, tudo terminou.

A luz se esvaiu, o vento deixou de soprar e Voldemort fora enfim derrotado. Eu deixei o meu braço pender ao lado de meu corpo, minha mão ainda segurando o fragmento da varinha; meus óculos haviam sido destruídos e minha vestes chamuscadas pela explosão de feitiços. Aos poucos todos se levantavam assustados buscando compreender o que havia se passado, quando perceberam que eu estava em pé e Voldemort havia desaparecido, a alegria tomou seus rostos em júbilo e o sol faiscou através dos vitrais em comemoração à nossa salvação.
Eu vi quando Rony, Hermione e Gina gritaram por mim... mas no momento em que pensei em correr até eles a Maldição veio cobrar seu preço, eu havia queimado minha vida para invocar aquele feitiço maldito...
“Está feito, Harry” – disse a voz de Sirius ecoando distante de mim – “Agora vamos para casa”.
Foi como se meu corpo finalmente tivesse exaurido todas as suas forças, eu pude ver a expressão de susto no rosto dos três... sorri para eles e no mesmo instante tombei para trás. Minha vida estava se esvaindo com o ar que eu respirava com dificuldade, senti minha cabeça sendo erguida e vi que Gina havia me acomodado em seu colo, Hermione segurava minhas mãos e lágrimas corriam de seus olhos grandes e amendoados... Rony me olhava, pálido e assustado.
- Estamos... livres... – eu falei num sussurro, me assustei ao ouvir minha própria voz falhando.
- Por favor, Harry – disse Gina, sua voz embargada, ela beijou minha testa com carinho – Não fale nada, por favor, o socorro já está vindo... nós vamos te ajudar.
- Não – eu respondi forçando um sorriso – Meu tempo com vocês terminou, Gina, eu permaneci vivo todos estes anos para esta luta, para destruí-lo e permitir que vocês tenham um futuro... mesmo que eu não esteja presente.
- Ah, Harry – disse Hermione mal podendo falar devido às lágrimas – Você não pode fazer isso conosco... não pode.
- Harry... – disse Rony sério – Não faz a besteira de nos deixar, cara.
Eu senti por eles, mas meu corpo estava destruído e minha alma havia sido exaurida para conseguir destruir Voldemort, não adiantava mentir dizendo que eu ficaria bem quando sabia que não havia retorno na estrada que escolhi seguir.
- Escutem bem, vocês dois – eu disse e segurei a mão de Hermione e Rony entre as minhas fazendo-as se cruzarem sobre meu peito – Quero que fiquem juntos não importa o que aconteça, vocês foram destinados a ficarem juntos e eu sei disso desde o dia em que nos conhecemos naquele trem e com o nariz sujo de Rony.
Os dois riram entre lágrimas e eu continuei.
- Eu não estaria aqui se não fosse por vocês – minha voz saindo cada vez mais baixa – Agradeço tudo o que fizeram por mim, dediquem-se um ao outro e vivam plenamente... vivam muito... e sejam felizes.
- Ah, Harry – disse Mione se debruçando sobre mim, seus soluços balançando meu corpo alquebrado.
- Gina – eu chamei.
- Por favor, não... – ela disse e eu senti suas lágrimas em meu rosto – Não se despeça, por favor.
- Eu preciso que me prometa... preciso que prometa que será feliz, entendeu?
- Eu não posso prometer algo que não conseguirei cumprir...
- Faça isso por mim, Gina. Por favor, como um último pedido.
- Está bem – disse ela por fim e sua voz falhou – Mas saiba que eu te amarei para sempre.
- Eu te amarei para sempre... – eu falei – O anjo da morte já levou meus olhos, mas eu ainda posso sentir você.
- Harry, Harry! – ouvi Hagrid gritar – Não, não pode ser.
- Por favor, Hagrid... contenha-se – disse o Sr. Weasley provavelmente impedindo que Hagrid me afogasse em suas lágrimas do tamanho de cascatas d’água.
- Ei, Harry... – eu ouvi a voz de Jorge próxima a mim, estava fina e ele parecia não conseguir conter os soluços também – Manda um alô ao Fred por mim, está bem?
- Harry, por favor, não vá – implorou Gina – Resista, resista... Harry... Harry?

Mas a voz de Gina se tornou ecoante e eu senti como se meu corpo flutuasse para longe dali, de repente abri meus olho e eles estavam perfeitamente nítidos, como se uma névoa tivesse cedido à claridade da aurora e eu estranhei porque podia ver duas imagens ao mesmo tempo, sobrepostas uma à outra.
Eu via o rosto de Gina e o teto do salão se esmaecerem e uma nova paisagem tremeluzir e se tornar mais nítida à medida que minha respiração falhava; era uma rua pacata de Godric's Hollow, o céu estava claro e não havia sinais de neve ou chuva, não havia nuvens no céu, apenas um infinito azul miosótis.
Ao lado da rua havia árvores altas de troncos largos e folhas grandes e marrons, o vento cálido do outono as soprava sobre a rua enchendo as calçadas com um tapete natural. Meus passos ecoavam por ali e eu me senti em casa, senti que pertencia àquele lugar calmo e silencioso... as casas eram belas, pintadas de várias cores, com jardins frondosos de grama verde e aparada.
Eu me senti bem naquele lugar... me senti vivo.
Então ouvi a voz de Gina me chamar e o lugar pacato tremeluziu um pouco, mas novamente voltou ao foco e eu cheguei a uma esquina onde uma casa estranhamente familiar me chamou a atenção. Pisquei meus olhos e um segundo depois a porta se abriu... um casal jovem e bonito saiu de lá. O homem era alto e magro e seu rosto era quase um reflexo do meu, a mulher era bonita e sorridente... e seus olhos verdes faiscaram ao sol; olhos que todos diziam serem iguais aos meus.

Meus pais sorriram para mim e acenaram... no gramado da casa eu notei uma mesa branca de jardim e de lá, Sirius e Lupin também acenaram para eu me juntar a eles... parei por um momento, indeciso. Ao olhar para trás eu vi Hermione, Rony e Gina me chamando e meu coração se comprimiu em meu peito... eu queria ficar com eles, mas sabia que não seria mais possível.
- É tão tranqüilo aqui... – eu disse.
- Harry? – ouvi Gina falar – Harry... fique conosco.
- Meus pais estão lá, Ginny... – eu sussurrei feliz – Sirius e Lupin também; é minha casa, ela está intacta e a rua é tão silenciosa... é um lugar lindo e eu espero que vocês venham me visitar algum dia... eu estou em paz, Gina, estou bem. Não se preocupe comigo, eu estou indo para casa.
Ouvi o soluço de pessoas à minha volta, o ronco de Hagrid parecia um avião, então, delicadamente, percebi Hermione se debruçar sobre mim, a mão de Rony segurando com firmeza a minha; Mione aproximou os lábios de meu rosto, deu-me um beijo delicado e falou entre soluços e lágrimas:
- Vá Harry... vá encontrá-los. Sentiremos sua falta... amamos você... agora vá para eles. Descanse.


Eu sorri para os meus amigos... para Gina... sorri e suspirei alto.



Eu fui o último Potter. O Senhor das Relíquias da Morte.



E com um sorriso nos lábios atravessei o véu da eternidade e apesar da saudade... caminhei tranquilamente em direção à minha casa, em direção aos meus pais...


... Deixando para trás o mundo dos vivos.





Notas Finais


Isso aí gente, esta foi a minha visão de um possível final para o 7° livro.. srsr agradeço a atenção de todos.

Valeu.


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